O sangue da travesti escorre na República




No Largo do Arouche, em São Paulo, o sangue de uma travesti escorria pela calçada. Facadas calaram sua voz e ceifaram sua existência para sempre. Testemunhas dizem que o agressor teria dedicado o ato ao candidato que pretende chegar ao posto mais alto daquilo que dá nome ao bairro, República. O crime não tinha como ser mais emblemático.

O sangue da travesti escorre na República.

Semanas antes, ao término de um jogo de futebol, torcedores se amontoavam dentro de uma estação de metrô e gritavam: “Oh, fulano, toma cuidado: Bolsonaro vai matar viado”. O vídeo viralizou nas redes sociais, mas foi tratado como “só mais um”.

Dias depois do primeiro turno das eleições, um homem colocou a cabeça para fora da janela de seu carro e gritou para um casal de rapazes que caminhava na calçada: “Quando Bolsonaro ganhar, isso vai acabar”.

Ontem, dia 21 de outubro, na avenida Paulista, o candidato fez uma transmissão para seus seguidores e prometeu expulsar do país ou prender todos esses “marginais vermelhos”. Nenhuma palavra sobre as ações criminosas promovidas pelos seus apoiadores, somente mais incitação ao ódio.

Jair Bolsonaro é velho conhecido da comunidade LGBTI. Ele nunca poupou esforços em difamar, assumir sua homofobia “protegida pela imunidade parlamentar”, dizer que preferia um filho morto a um filho gay ou, ainda, que filho homossexual é falta “de porrada na infância”. Todos esses discursos, facilmente encontrados na internet, são gatilhos para o ódio. O ódio que seus eleitores estão endossando com o voto.
Sim, isso tudo é para você que sempre se disse aliado, amigo e que apoiaria a luta por direitos iguais. Isso é para você que não pensa duas vezes antes de eleger uma pessoa que coloca a integridade do seu amigo gay em risco para “acabar com a roubalheira do PT”.

Bolsonaro, é claro, não vai matar ninguém com as próprias mãos, mas o seu discurso mata. É contra seu discurso de ódio que lutamos. Ele legitima ataques e ofensas. Faz das pessoas LGBTI uma categoria inferior e nós já vimos esse tipo de história antes.

Em período eleitoral sempre existem divergências, e isso é saudável. Não concordar com a visão política dos demais ajuda a construir uma sociedade plural. No entanto, o Bolsonaro já provou, em diversas ocasiões, que não representa um projeto político. Ao longo de seus quase 30 anos como deputado, ficou mais conhecido por suas falas que exaltam crimes e defendem a perseguição às minorias do que por projetos e leis que tenham sido efetivamente aprovados para a sociedade.
Pensando dessa forma, qual é o motivo que leva alguém a votar em Bolsonaro? Não pode ser puramente Anti-PT e anti-corrupção.

Uma sociedade mais segura para mulheres, negros e LGBTI é mais segura para todos, pois esses são os grupos mais vulneráveis. Aliados não estão apenas em discursos ou curtidas nas redes sociais, estão nas ações. E se não é aliado, é inimigo.

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