Os que não sabem dizer "Não"


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Não, jamais, sai daqui, nem pensar, tá louco?, sem essa, não mesmo, hoje não, passa amanhã, nem ferrando, nem sonhando, de jeito nenhum, até parece...

Existem várias formas de se dizer um simples “não”, mas todas elas desaparecem da minha mente quando sou convidado a fazer algo que eu não posso ou não quero. Só por isso, me obrigarei a não citar a palavra oposta ao “não”. Pelo menos nesse texto.

Imagine uma situação hipotética:

Convite: Vamos numa rave divertidíssima, cheia de gente TOP, barro molhado, música eletrônica, tapa na cara, drinks e que custa R$ 500?
Eu: É...
Convite: O que você tem para fazer?
Eu: Tenho um aniversário.
Convite: Vai depois.
Eu: Fica longe.
Convite: Vai de Uber.
Eu: Fica caro.
Convite: Eu te pego. Me passa o endereço.
Eu: Tá bom, vai. Eu vou.

Quantas vezes já passei por isso? Não sou capaz de dizer.

Em algum momento, todos os “que-não-deve-ser-citado” se cruzam e eu tenho que furar com alguns deles, pois não usei a saudável e útil peneira do “Não”. O pior é que, muitas vezes, preciso furar com os “que-não-deve-ser-citado” que eu realmente diria. Os motivos são inúmeros: medo de decepcionar, de ser mal interpretado, de perder alguma boa oportunidade ou de deixar alguém na mão. No fim, tudo se resume ao medo.
Pelo que noto ao meu redor, não estou sozinho nessa angústia, mas vou usar a narrativa em primeira pessoa para tornar tudo mais pessoal. Se você se encaixa, leia para si mesmo, como eu farei ao terminar. E farei sempre que esquecer que preciso aprender a dizer “Não”.
Não é fácil mudar e vencer esse carretel de medos que me leva a disparar a metralhadora de “que-não-deve-ser-citado”. Fui criado para tentar não magoar ou frustrar expectativas de ninguém, então tento dar conta de tudo ou fazer algo que, às vezes, não quero só por não ter coragem de dizer "Não".

Só temos uma f* vida

Se parar para pensar, uma pessoa vive, em média 70 anos (Olá, IBGE). Isso equivale a quase 37 milhões de minutos. Qual a porcentagem desse tempo que passamos fazendo coisas por outras pessoas? Levando em consideração os momentos em que estamos dormindo, ou que ainda não temos consciência de que somos alguém, nos primeiros anos de vida, sobra muito pouco. Tenho medo de fazer essa conta.
É preciso entender que não há nada de errado em dizer “Não”. Só na frase anterior eu usei a expressão duas vezes, então não existe limitação e podemos distribui-lo sempre que necessário. Olha aí, usei outro “Não”.

Use com moderação

Isso não quer dizer que todos teríamos que ser egoístas incorrigíveis, que só deveríamos pensar em nosso próprio umbigo e não ajudar ninguém. Mas tudo é preciso ser dosado.
Uma pessoa como eu, que vive com o “que-não-deve-ser-citado” ligado no automático, passa por diversas experiências, muitas ruins, mas algumas que jamais teria tido contato. Olha o medo de perder oportunidades aí de novo.

Respira, levanta a cabeça e solta um sonoro NÃO.
Mas agradeça pelo convite.

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