O que sobra no fim da audição?

Foto: Caio Galucci

Quais marcas da sua vida te transformaram em tudo que você é? Quais cicatrizes você esconde por baixo desse sorriso ou dessa aparência límpida? Quem ou o que você é, quando não está tentando apresentar algo que não é, para quem espera saber quem é você?  (Oi?)

Quais são seus maiores traumas, e por que você não os revisita regularmente? Por que a resistência em abrir a caixa de seus medos? De seus fracassos? Saber o que te trouxe até aqui? Ninguém é fruto só de sucessos. 

Ontem (6) fui assistir à última apresentação do espetáculo Audição, no Espaço Parlapatões, na Praça Roosevelt, em São Paulo, dirigido por Lázaro Menezes. Durante o longo caminho para casa (periferia way of life), as perguntas que abrem este texto dançaram freneticamente em minha cabeça e me fizeram analisar diversos aspectos da minha própria vida. Estaria eu sendo audicionado a todo momento, até por mim mesmo?


Infelizmente, não tenho como sugerir que assistam, pois a temporada encerrou, mas se tiverem oportunidade de ter contato com o texto original, do britânico James Johnson, eu recomendo. O roteiro se sustenta em duas personagens, Laura (Manu Littiéry) e Stella (Kiara Sasso). A primeira é uma atriz que vai até uma audição para um espetáculo teatral e encontra na diretora, Stella, todos esses questionamentos. A própria diretora se vê enfrentando seus monstros e projetando suas frustrações nos candidatos que vão até ela pedir por uma chance.

Além de todos os louros do espetáculo, a produção é um marco por outra razão: a estreia de Kiara Sasso, grande conhecida dos musicais da Broadway, encenados nos palcos brasileiros, na Roosevelt. Foi surpreendente vê-la dando vida a uma personagem tão crua, tão complexa e, ao mesmo tempo, tão humana. 
Manu também é dos musicais: esteve em cartaz com O Príncipe Desencantado, este ano, e tem um álbum gravado. Totalmente entregue ao papel, é difícil tirar os olhos dela durante a encenação e não se identificar com a trajetória da personagem. As duas não precisaram cantar um verso sequer para prender a atenção do espectador do início ao fim.


Se a peça voltar a ser encenada no próximo ano, recomendo que não percam!


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