O retorno do Rouge - ainda melhores do que antes


No último dia 25 de novembro eu assisti a um show do Rouge pela primeira vez. Depois de 15 anos de formação do grupo, essa foi a primeira vez em que consegui apreciar uma apresentação ao vivo da maior gilrband que o Brasil já teve. E a espera valeu MUITO a pena. 
Acompanhei todos os episódios do reality show que formou a banda, o Popstars, em 2002, e conhecia a história de cada uma. Vibrei com o resultado, acompanhei cada lançamento, cada single, cada performance, mas tudo à distância. Assistir a um show do Rouge e até mesmo comprar CDs e DVDs era uma coisa cara para crianças e adolescentes que ainda não tinham sua própria renda, o que era meu caso.  
Aos 16 anos, falar sobre o Rouge já era complicado. Garotos da minha idade tinham outros interesses musicais e em um época bem menos tolerante do que hoje, era muito difícil um LGBT sair do armário ainda nessa idade. Por fora, eu fingia ser heterossexual, mas meu fone de ouvido era meu universo particular. Quando alguém descobria, era motivo de chacota por muito tempo. 

Contexto


A história do Rouge sempre foi muito parecida com o caminho seguido pelas Spice Girls, uma das maiores girlbands da história. A Luciana, nossa Geri Halliwell, saiu do grupo após o segundo álbum, deixando as outras quatro meninas, Aline, Karin, Fantine e Patrícia (que hoje atende por Li Martins) com um desafio gigante: continuar vivendo seus sonhos, mesmo que em todas as entrevistas tivessem perguntas sobre a integrante desgarrada, possíveis brigas e até um iminente fim. Ninguém queria mais saber o que elas lançavam, só sobre quando o Rouge acabaria. Isso foi levando o grupo ao derradeiro fim, quando o contrato com a produtora encerrou, em 2005, e cada uma seguiu o seu caminho. 
O retorno de 2012, só com as quatro remanescentes, para o programa Fábrica de Estrelas, do Multishow, acendeu uma esperança no público, mas a ausência de Luciana era sentida. A quinta integrante, que puxava boa parte das vozes nos primeiros álbuns, constantemente era citada. Se elas tivessem dado continuidade ao projeto, talvez não conseguiriam ir muito longe pelos mesmos motivos da década anterior. 

O Chá de retorno


Eis que em 2017 o retorno acontece, e de surpresa. Ninguém mais esperava ver as quatro e, muito menos, as cinco juntas novamente, quando o Chá da Alice postou uma montagem anunciando o primeiro show no Rio de Janeiro. O Rouge havia voltado e dessa vez para espetáculos grandiosos. A melhor notícia viria pouco mais de um mês depois: um retorno definitivo, com direito a músicas novas. O single Bailando já foi gravado e é esperado ainda para 2017. 
Quando entrei no show, no último sábado, todo esse histórico já permeava minha mente. Elas próprias duvidavam de sua força nos dias atuais, mas todas as apresentações tiveram ingressos esgotados ainda nas primeiras horas de vendas.
É nítido como as cinco evoluíram nesse tempo longe dos palcos. As vozes estão mais potentes, a harmonia impecável, o domínio do palco é todo delas: não há mais falas decoradas, como antes. As coreografias, que eram o ponto alto na década passada, agora são mero acessório. Hoje, cinco mulheres, entre 33 e 40 anos, relembram o que fizeram quando meninas, mas com muito menos pressão por resultados, menos cobranças, menos olhares inquisidores e menos amarras. Hoje a torcida não é para quando elas se separarão, mas sim para quando sai material novo, e é a pressão que todo artista pop realmente tem - e gosta. 
O show mostrou que as mesmas músicas de 15 anos atrás podem ser revisitadas e transformadas em algo ainda mais elaborado. As novas interpretações para baladas como Cidade Triste, Sem Você, O que o amor me faz, Olha Só, Um Anjo Veio me Falar e Hoje eu Sei jamais seriam possíveis com a pouca idade e pouca experiência que elas tinham no início dos anos 2000. A maturidade pode encontrar a inocência de letras como as de Me Faz Feliz, Brilha la Luna, Popstar, Nunca deixe de sonhar e ficar incrível! Por incrível que pareça, o maior hit da carreira do grupo, Ragatanga, parece completamente fora do contexto nessa nova fase das meninas.


Um exemplo da maturidade se viu na própria Luciana, que cantou as músicas dos dois últimos álbuns do Rouge (na foto acima, ela participa da perfomance de Blá Blá Blá), em que ela não estava presente, como coro. Diferentemente de Geri, no revival das Spice Girls, que saia do palco durante as performances de Holler e Let Love Lead the Way. 
O grupo deve continuar as atividades paralelamente às vidas que cada uma construiu nesses anos separadas. A Karin se firmou como atriz de novelas e teatro, a Fantine mora na Holanda, a Aline e a Lu têm famílias em outros estados e a Li acabou de ter uma filhinha e também construiu uma carreira no teatro musical. Não importa a intensidade, o que importa é que elas não parem de fazer música juntas.  



Adendo de mico: Pouco mais de uma semana antes do show, encontrei Aline, Fantine e Li no musical Les Misérables, no Teatro Renault, em São Paulo. O fato de conhecer toda a história do grupo e acompanhá-las nas redes sociais fez com que eu achasse que elas também me conheciam! Agarrei a Aline e assustei a Fantine, mas não consegui registros fotográficos do momento. 

Fotos: Carol Caminha

Setlist:



1. Popstar
2. C`est La Vie
3. Beijo Molhado
4. Quero Estar Com Você
5. Não Dá Pra Resistir
6. Me Faz Feliz
7. Um Anjo Veio Me Falar
8. Te Deixo Tocar
9. Fantasma
10. Vem, Habib
11. Bla Bla Bla
12. Vem Dançar (Let`s Dance)
13. Sem Você
14. Cidade Triste
15. Tudo Outra Vez
16. Nunca Deixe de Sonhar
17. Hoje Eu Sei
18. Olha Só
19. O Que o Amor Me Faz
20. Quando Chega a Noite
21. Vem Cair na Zueira
22. Brilha La Luna
23. Ragatanga
24. Tudo é Rouge

Bônus: Elas ainda cantarolaram trechos de Por Onde Quer Que eu Vá, música feita para os fãs, presente no álbum Blá Blá Blá.

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