O dia em que coloquei a mão na massa



Meu maior talento na cozinha sempre foi comer. Desde que aprendi a mastigar. Talvez até antes disso, mas não tenho como comprovar. Entre meus pratos preferidos estão as massas. Para mim, é a comida mais criativa e com mais possibilidade de encantamento possível. A massa une e surpreende as pessoas. Meu sobrenome de origem italiana, que ganhou uma abrasileirada quando a galera chegou no Brasil (parte da família ainda se chama Graton, mas isso é história para outro texto), no início do século passado, não nega que eu me curvo diante de uma lasanha.


Ganhei uma promoção do Pastifício Primo, no fim de agosto. A recompensa pela melhor história contada sobre a relação com a marca era participar do Jantar na Fábrica, que consistia em visitar a cozinha, conhecer e aprender parte do processo artesanal de produção e degustar o produto dessa incursão. O único pedido feito era que levássemos uma garrafa de vinho para compartilhar.
O meu texto falava sobre como eu consegui arrastar minha equipe de trabalho para almoçar no local, em um dia de chuva. Falei também sobre como eu pedi (talvez eu tenha implorado) para que eles aceitassem Sodexo.

Nera restaurante?

O Pastifício Primo não nasceu com o propósito de ser um restaurante, mas a demanda o transformou em um. Os clientes não se conformavam em apenas levar as massas artesanais para casa. 
Ivan Bornes, fundador do Primo, decidiu adaptar as lojas para que os clientes pudessem consumir no local e tem funcionado. Ele conta que, em breve, os espaços receberão estrutura para receber mais pessoas.  

À queima-roupa

Meia hora antes do horário marcado, eu já estava lá. Uma noite de quarta-feira agradável em São Paulo, nem frio e nem calor. Um misto de sensações borbulhava dentro de mim: felicidade, por ter contato com uma culinária que sempre me encantou e preocupação, pois se eu preciso olhar o modo de preparo do arroz, imagina para fazer massas?
Conversava distraidamente com minha amiga quando fomos chamados pelo Ivan para adentrar o mundo mágico do Pastifício. Levantei de supetão e o vinho não suportou a pressão e o magnetismo da confusão dos meus sentimentos: jogou-se no chão. A garrafa sangrou por toda a calçada da rua Fradique Coutinho, aos pés do emblema do restaurante. Sua curta vida, que durou da prateleira do supermercado Extra, no Jaraguá, até Pinheiros, foi breve, mas intensa.

O jantar


Após recebermos nosso avental e touca, entramos para a área de produção. Eu ainda vivia o luto do vinho galopante e rebelde, mas quando a primeira taça da garrafa de outra pessoa chegou à minha mão, esqueci. Nem precisei trabalhar muito esse sentimento.
No decorrer da noite, o feiticeiro Ivan abriu o seu livro de mágicas e nos mostrou como farinha pode se transformar em algo tão incrível. Ele foi extremamente didático e era possível sentir a paixão na sua forma de falar e tratar a massa. Quando alguém realmente ama o que faz, transpira aquilo. Os olhos brilham ao falar e quem escuta é facilmente hipnotizado. Meus colegas de jantar também tinham forte ligação com a culinária. Parecia um grande culto ao deus massa. Era inspirador! 

Este parágrafo te fará sentir fome

Quando a massa vem para a grande mesa de trabalho, chama todos os olhares para si. Longa, macia e sedosa, ela se deita como um grande tecido pronto para se tornar uma obra de arte. O aroma é tão bom que a vontade é de iniciar a refeição ali mesmo. Calma, eu me controlei, não comi a massa crua. 
Após ser cortada, ela recebe recheios que podem ser bem cremosos, e ajudam a dar forma para a nova vida que aquela tela assume a partir daquele ponto. 
Um dos recheios mais incríveis que experimentamos era composto de cream cheese com limão siciliano. Ao dar a primeira mordida, o sabor que recepcionava era o do molho embalando a própria massa. Em seguida, a cremosidade do recheio se revelava, finalizando com o toque cítrico. Sim, comi alguns… Muitos alguns. 

Artesanal de verdade



Cada um trabalha com as referências que tem, então, resgatei minhas memórias de origami para tentar fechar capelettis recheados, que precisaram ser refeitos ou fechados da forma correta pelo masseiro, senão estourariam no forno. Com o tempo, acho que peguei o jeito.
Você passa a entender o valor de uma massa artesanal quando vê o processo de produção. É tudo realmente manual, nenhum macarrão é igual ao outro. Cada um tem um ciclo de vida próprio, que inicia ao ser cortado, se desenvolve com a camada de recheio, amadurece com o ganho do formato, chega à glória ao ser cozido e padece no paraíso, com um molho e queijo ralado, na degustação.

Saímos de lá alegres pelo vinho, mas também pela experiência. Não consigo contar quantas taças tomei, ou quantos pratinhos comi, mas tudo era Primoroso. Nem parecia que eu tinha feito alguns. Só não me peçam para repetir…
Com certeza pensarei em um dos masseiros que conheci ao almoçar uma das iguarias fabricadas pelo estabelecimento, imaginando como terá sido todo o processo. Ganhei mais um ritual para a vida: imaginar qual terá sido a história por trás de cada macarrão artesanal em um prato. Mal vejo a hora!


Produto final
Com minha companheira de aventura <3 td="">


* com colaboração de Andreia Duarte





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