Bem na nossa cara

Pabllo Vitar, Diplo (do Major Lazer) e Anitta, durante as gravações do videoclipe Sua Cara, no Marrocos

Os versos de "Sua Cara", música do trio de produtores norte-americanos Major Lazer, em parceria com Anitta e Pabllo Vitar, já estavam na boca do povo quando o videoclipe saiu, no último domingo, dia 30. A expectativa para o vídeo era alta, pois seria mais um passo da subestimada Anitta em direção à carreira internacional e a primeira aparição de Pabllo para o mundo.
A drag queen já é a mais seguida nas redes sociais, ultrapassando até mesmo RuPaul, e foi a primeira a conseguir lançar um álbum, com repercussão nacional, mesmo que com selo independente, no Brasil. Antes de Pabllo, as drag artistas eram restritas ao público das baladas LGBT.
A cantora pode não ser a mais talentosa entre as drag queens brasileiras, mas está ocupando um espaço necessário. E nesse mês ainda deve quebrar outro tabu, ao se apresentar no Criança Esperança. 
Os números de visualizações do vídeo impressionam: 20 milhões nas primeiras 24 horas, de acordo com o Major Lazer, tornando-se o terceiro maior da história do YouTube, e o conteúdo mais rápido a conseguir um milhão de likes na história da plataforma. O vídeo teve a melhor estreia do ano, mundialmente.
No entanto, nem tudo é motivo para sair por aí rebolando bem na sua cara. A presença de Pabllo no vídeo foi uma afronta a quem não lida bem com um LGBT na mídia, e ainda por cima com tanto espaço quanto uma mulher cisgênero. 
Pabllo foi praticamente ignorada pelo jornalista da Record, Amin Khader, no evento de lançamento de Sua Cara. Anitta chamou a atenção do entrevistador, tentando incluir Pabllo na conversa diversas vezes, mas a edição final mostrou qual realmente era o objetivo da matéria: apagar a drag. A atitude de Anitta mostrou o que realmente héteros que se dizem engajados na causa LGBT podem fazer: inclusão e igualdade. As duas trabalharam duro naquele vídeo e merecem o mesmo destaque.
Além do "case" brasileiro, Pabllo também foi esnobada pelo blogueiro norte-americano Perez Hilton, que se derreteu por Anitta, mas ignorou a drag, mesmo diante dos protestos de fãs brasileiros.


Só para comprovar que o boicote não é nada pessoal com a Pabllo, na última semana, sua colega Lia Clark (foto) lançou o vídeo Boquetáxi. A música faz clara referência ao ato sexual, mas o vídeo possui apenas algumas piadas de duplo sentido, bem comuns nos videoclipes de funk e sertanejo que vemos até mesmo na televisão. Em menos de 24 horas, Lia viu seu clipe ser enquadrado como impróprio para menores de 18 anos. O motivo? O YouTube recebeu uma chuva de denúncias, que partiram tanto de heterossexuais, quanto de homossexuais, que se sentiram ofendidos pelo conteúdo.

Lia escreveu uma carta aberta sobre o tema:



Tudo isso mostra que ainda estamos longe de viver em uma sociedade que aceite e acolha bem todos os gêneros e sexualidades. A luta não é em vão e não pode parar. O preconceito está enraizado até mesmo nos próprios LGBT!
A presença de Pabllo, gay afeminado, nordestino e drag, é cada vez mais necessária para quebrar tabus em nossa sociedade. Vibro internamente sempre que ouço alguma pessoa improvável cantarolando versos de K.O. e torço para que isso se torne cada vez mais rotineiro.

"Seu amoooor me pegou"

Por fim, vamos enaltecer, porque Pabllo e também Anitta estão de parabéns:




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