Dez anos sem Sandy e Junior

Quando Sandy e Junior anunciaram o fim da dupla, em 17 de abril de 2007, a maior parte dos artistas pop que estão em alta atualmente tinha menos de 15 anos de idade. O mundo era outro, ainda comprávamos CDs e streaming não existia. 
O fatídico comunicado completou dez anos no mês passado e não passou em branco. A separação da dupla foi tão impactante para a música pop brasileira quanto o término das Spice Girls, em escala mundial, por exemplo.
Tá, nem tanto...




O Brasil mudou muito nesse período, tivemos uma Copa do Mundo, uma Olimpíada e três Presidentes da República - até o fechamento desse texto Temer ainda não caiu. Novos ícones pop apareceram e todos se dizem influenciados pela dupla de irmãos que começou cantando Maria Chiquinha, no Som Brasil, em 1989. Grande parte da minha geração de mortais também foi influenciada pelos irmãos. Peço licença para compartilhar algumas experiências pessoais. 
Coloque seu CD Quatro Estações para tocar e vem comigo :-)

Sandy foi uma de minhas primeiras divas - mas, na época, eu achava que era crush - . Eu acompanhava tudo que ela e o irmão faziam e queria muito ser como eles. Se havia um ideal de vida para mim, aos seis anos, era ser como Sandy e Junior.

1992 - O ano que eu os vi pessoalmente, pela primeira vez Em uma caravana da família, fui ao Show Maravilha, apresentado pela Mara Wonder Maravilha. Eu não sabia o que estava fazendo lá no meio, mas lembro que Sandy e Junior se apresentaram com o clássico Pó pa tapa taio. 
Se tiver sorte, me encontre neste vídeo. Eu nunca consegui:


1993 - Em uma festa da igreja, subornei minha irmã, com então quatro anos, para fazermos um cover em playback de Meu Primeiro Amor. Não há nenhum registro, além da lembrança de nós dois dublando a música de mãos dadas.

"Eu te conheci
Foi tão bom pra mim
Nem eu sei por que razão, eu fui ficando assim".
Eu dublava o Junior. Infelizmente.


Meados de 1994, depois do Plano Real. Cenário: feira livre da periferia. Criança se aproxima de uma barraca de fitas K7 e o vendedor o avista:
- Lá vem você de novo namorar as fitas, não é?
- Sim... Quanto está essa?
- Dois reais.
- Hummm.

A cena se repetia todos os sábados, quando eu ia à feira com meus pais. Eu via a barraca de fitas de músicas e babava durante vários minutos. Mas, em casa, nem rádio tinha para tocá-las.
A fita que chamava minha atenção, em especial, era a Tô Ligado em Você, da dupla Sandy e Junior, lançada no ano anterior. Era o terceiro álbum gravado por eles. Lembro até hoje que ficava posicionada perto das outras infantis, como Xuxa, Eliana e o garotinho francês, Jordi - onde andará Jordi?

A dupla famosa cresceu diante do Brasil. Sandy teve a adolescência mais exposta do país, por mais discreta que ela fosse. Uma declaração feita aos 15 anos, sobre virgindade, reverbera até hoje, quase vinte anos depois, casada e com filho. Naquela época, eles faziam muito sucesso com covers de músicas internacionais e a transição do infantil para o adulto.

1999 - Praticamente crescemos juntos. A maturidade deles podia ser notada por suas músicas e eu vivia todas aquelas fases. Desde Power Rangers até Inesquecível. O ápice foi o disco As Quatro Estações, lançado em 1999. Todos os meus amigos tinham aquele CD e o Brasil sabia a letra de Imortal, As Quatro Estações e Olha o que o Amor me Faz. Só de ler o título, aposto que a música veio na sua mente, caro leitor. 

"No outono é sempre igual
As folhas caem no quintal
Só não cai o meu amor, pois não tem jeito
É imortal"



2002 - Esse foi o fim dos anos de ouro de Sandy e Junior. A concorrência aumentou, surgiram nomes como Wanessa Camargo, Kelly Key, Luiza Possi, Rouge, KLB e tantos outros, além da carreira internacional da dupla, que não chegou a decolar fora do país. À essa altura, eles colecionavam sucessos como Quando você Passa (Turuturu) e A Lenda. Confesso que já tinha sido seduzido pela simpatia de Wanessa Camargo e não acompanhava mais Sandy e Junior com tanto afinco. Ou melhor, acompanhava, mas tinha medo de assumir para mim mesmo, pois a mídia pop sempre nos faz escolher entre uma ou outra: Britney ou Christina, Sandy ou Wanessa, Thalia ou Shakira, Demi ou Selena, Anitta ou Ludmilla... Com o tempo, aprendemos que dá para gostar de todas e pronto. Aprendam, adolescentes. Dica de ouro!

2007 - Todo mundo lembra o que estava fazendo quando assistiu ao vídeo da dupla anunciando o seu fim, em 17 de abril. Mentira, talvez nem os fãs mais fanáticos se lembrem, mas todos recordam a sensação de vazio que aquilo causou, quando se concretizou. A primeira reação foi: "A Sandy sempre cantou sozinha, grandes coisas". Depois, começou a cair a ficha.



Talvez nenhum grupo ou cantor do gênero tenha conseguido tamanho feito no Brasil, por tanto tempo quanto eles, que estiveram juntos por 17 anos.

2009 - Nunca vou esquecer o sentimento estranho que tive, já adulto, em uma coletiva de imprensa com a Sandy, em sua primeira turnê solo, a Manuscrito. Alguns jornalistas e eu aguardávamos em pé em uma sala pequena, no extinto Citibank Hall, em Moema, até que ela entrou e ficou a menos de um metro de mim. Eu paralisei. Ela existe mesmo!
Todas as perguntas giravam em torno de seu novo cabelo loiro e o comercial da cerveja Devassa. Eu tinha um milhão de perguntas para fazer sobre o disco novo, mas não conseguia abrir a boca. Mal saiu uma questão. Ela deve ter notado meu nervosismo, pois olhava para mim e sorria. Ou foi só impressão minha e eu quero acreditar nisso até hoje. Pode acontecer.
Fato é que, no show, a ausência de Junior era nítida. O seu silêncio no palco era ensurdecedor. Sandy, em muitos momentos, parecia perdida e tímida, mesmo com mais de 20 anos de estrada. Será que ela continuaria?  

2016 - Fui novamente a um show da Sandy. Desta vez, na turnê Meu Canto. Me surpreendi muito com a evolução dela como cantora solo. Agora é fácil notar como ela domina o público, o palco e canta o que quer e o que gosta. Ela nitidamente trabalha por amor ao que faz, sem amarras comerciais.



Com 34 anos de idade, Sandy já é uma das maiores divas brasileiras. Prova disso é o vídeo que mostra diversos cantores da nova geração se emocionando quando a encontram no palco.


E pensar que já sofri tanto bullyng por admirá-la. Eu era um visionário, resta aceitar.

Dez vezes que Sandy e Junior se tornaram imortais

1 - Ao gravarem uma versão para o clássico I'll be There e imortalizarem Com Você em português.
2 - Quando se apresentavam no Criança Esperança, que sempre tinha alguma música-tema gravada por eles.
3 - Quando gravaram a música dos Power Rangers. Anos depois, já em carreira solo, Sandy admitiu que morria de vergonha de dançar esse clássico.
4 - Quando versionaram músicas icônicas e nos presentearam com clássicos do karaokê, como Não Ter, Imortal e Inesquecível.
5 - Eles tiveram a única versão aprovada de My Heart Will Go On, em todo o mundo. E ninguém sabe explicar a razão.
6 - Quando marcaram seu amadurecimento e nos abrilhantaram com a fossa da sofrência teen, As Quatro Estações.
7 - Quando ganharam seu próprio seriado dominical na Globo. Sandy ainda experimentou a faceta de atriz em novela e também no cinema.
8 - Quando lançaram um CD com quatro capas, uma para cada estação. A minha está cravada no inverno até hoje (imagem Let it Go ao lado)!
9 - Quando lotaram o Maracanã com um show nacional.
10 - Quando gravaram um Acústico MTV para se despedirem da carreira em dupla.

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