Há quase vinte anos, eu entrei sozinho pela primeira vez em uma sessão de cinema. Fui assistir ao famigerado Titanic. Isso aconteceu poucas semanas depois do meu aniversário de 12 anos, então já tinha idade suficiente para encarar a megaprodução e poderia me virar muito bem. Fui direto da escola, com uniforme e tudo. Era tão capaz de resolver meus problemas, que quando a atendente perguntou se a entrada era meia ou inteira, não tive dúvidas:
- Inteira. Quero ver o filme todo.
Depois, quando descobri do que se tratava, me arrependi como poucas vezes na vida.
Assisti às mais de três horas de filme sem nem piscar. Foi um marco na minha vida e eu finalmente poderia entrar nas rodinhas de conversa, tinha assunto com o mundo.
Meu grande marco no cinema, no entanto, aconteceu dez anos depois.
Fui novamente sozinho ao cinema em 2007, mas agora já sabia escolher entre meia e inteira. Até porque o dinheiro já começara a sair do meu próprio bolso. Escolhi despretensiosamente o filme P.S. Eu Te Amo e é sobre ele que quero falar.
A princípio, achei que seria mais uma comédia romântica bobinha. Tinha lido pouco sobre a obra e fui impactado logo nos dez primeiros minutos. O filme conta a história de Holly (Hilary Swank, em seu primeiro papel “menininha”) e de como ela supera o luto pela morte precoce de seu marido, Gerry (Gerard Buttler).
Ele morre logo no início do filme, com um câncer no cérebro, no auge de seus 35 anos. O casal já estava junto há dez anos, mas ainda vivia as incertezas de ser ou não uma família e das instabilidades emocionais, que sempre levava a discussões intermináveis. Gerry arranjou tudo para que, após sua morte, Holly passasse a receber cartas suas, que foram chegando de formas improváveis, ajudando-a a superar a perda e a se encontrar novamente, para continuar a viver.
Eu sempre choro quando assisto, até hoje. Em cenas diferentes. Sempre alguma me pega desprevenido e arranca uma lágrima, sem eu perceber. No entanto, uma cena em especial me toca toda vez: assim que Holly volta do funeral e se vê sozinha em casa, liga para a caixa postal de Gerry para que possa escutar sua voz, até conseguir dormir.
A temática pode parecer batida, mas para quem já viveu um luto é impossível não se identificar com o drama vivido pela protagonista e o apego às pequenas coisas deixadas pelo ente querido. As dúvidas sobre a própria existência, o tal do “virar a página”, e o que fazer com todas as lembranças que ficaram e com tudo o que foi levado de nós são questionamentos torturantes.
O espectador cresce junto com a personagem. Holly amadurece na nossa frente. Conforme a história se desenrola, a protagonista relembra alguns fatos de sua vida com o marido falecido que a tornam mais forte e segura de si.
A trilha sonora é outra maravilha. A música tema do filme, I Love You 'Til the End, do The Pogues, é toque do meu telefone até hoje - dez anos depois.
De todos que vi, esse foi o único caso em que o filme superou o livro que o inspirou. A obra da jovem escritora Cecelia Ahern também é forte e conta a mesma história, mas de outra forma. Recomendo que se ainda não conhece, aprecie as duas narrativas, mas veja o filme antes.
Separei alguns trechos das cartas enviadas por Gerry que me tocaram (ALERTA DE SPOILER):
"Você foi a minha vida, Holly, mas eu sou apenas um capítulo da sua. Haverá mais, eu prometo, portanto aqui vai o meu grande conselho: não tenha medo de se apaixonar de novo, fique atenta aquele sinal de que não haverá mais nada igual"
"Se pode me prometer algo prometa que sempre que você se sentir triste ou insegura, ou que sua fé vacilar, você vai tentar olhar pra si mesma com meus olhos"
"Saiba que onde quer que eu esteja, estou com saudades"
"Não é de mim que eu me preocupo que você não se lembre. Mas não se esqueça da garota espontânea que você era"
E a carta que encerra o filme, enviada por Holly ao Gerry e que é a grande lição da história:
"Querido Gerry, disse que queria que eu me apaixonasse de novo. E talvez um dia eu me apaixone, mas existem tantos tipos de amor. Esta é minha única vida, e é maravilhosa e terrível, curta e interminável e ninguém sai dela com vida"
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