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Voando na duna do por-do-sol, em Canoa Quebrada |
Eu poderia escrever em detalhes sobre como, à noite, as mesmas ruas ganham uma luz especial. Que pequenas lamparinas revelam restaurantes charmosos, elegantes e com uma comida deliciosa. Eu poderia falar, também, que só há uma rua de destaque lá, chamada de Broadway, e assim como o nome dá a entender, parece cenário de filme musical.
Mas, não. Não vou falar sobre Canoa Quebrada.
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Jericoacara |
Jeri nem é tudo isso.

Eu adoraria me alongar e falar sobre como Fortaleza é uma cidade linda. Não só pelas praias, mas também pelo valor histórico. O que são as "barracas de praia" da Praia do Futuro? Como as pessoas têm coragem de dar esse nome àquelas estruturas que eu nunca vi na vida, com piscinas, mesas, massagens, música ao vivo etc? E o pôr do sol em Iracema? O forró do Pirata Bar, o chopp de vinho do Bixiga, a arquitetura do Dragão do Mar? Tudo lindo, imperdível e inesquecível.

Mas quero falar mesmo é das pessoas. Cruzar o Brasil pode nos dar a impressão de sair do País, uma vez que são costumes tão diferentes, gírias completamente desconhecidas, palavras que nunca ouvimos e reações inesperadas. O Ceará é terra da luz, da magia e também da alegria, o título não pertence só à Bahia. Dois personagens vão ficar gravados para sempre em minha memória.
No espaço, há um livro com o primeiro nome de pessoas que foram escravizadas e características, como cor da pele e "habilidades" identificadas pelos senhores de escravos. Enquanto eu observava a peça histórica, fui abordado pelo segurança do local, Targino.
- Aí deve ter o nome de bisavós ou tataravós meus, mas nunca vou saber.
- Pois é, só registravam o primeiro nome das pessoas. Fica difícil identificar alguém.
- Olha aqui, tem umas correntes que eles usavam nas pessoas.
- Que coisa mais triste.
- É... Era muito sofrimento... Você leu aqui? - ele me apontou um comunicado de um senhor de escravos que procurava pelo homem que conseguiu fugir e oferecia uma boa recompensa.
- Vi sim. Eram tratados como objetos.
Targino, animado, me levou a outra sala.
- Olha aqui, tem toda a roupa do padre Ciço. Aquela espingarda ali era dele. Esse padre aí era porreta.
O vigia disse ter ficado animado com nossa presença no museu, que não é exatamente um dos pontos mais visitados de Fortaleza. Ele nos mostrou mais algumas obras, sob seu olhar, e se foi quando precisou cobrir a colega na recepção.
Naquele dia eu conheci a história do Ceará sob a ótica de quem a vive, e a viveu em gerações passadas. Que convive todos os dias com aquelas peças e é capaz de ouvir os próprios passos no assoalho, dada a imensidão no espaço e o vazio dos corredores. Targino despediu-se de nós com um sorriso tão sincero, raro de se ver por aí.
Camila estava sorridente quando chegamos. Ela parecia sinceramente feliz, apesar de trabalhar na noite de réveillon. Ela nos recebeu e se colocou à disposição para nos atender no que fosse preciso. E não era conversa fiada, ela foi muito prestativa e sempre com um sorriso enorme e iluminado no rosto.
Após a meia-noite, quando todos confraternizaram, nós a abraçamos e lhe desejamos um feliz ano novo. Ela, com o sorriso a que já estávamos acostumados, disse que o ano certamente seria bom, pois já começará com sua formatura em assistência social, nos primeiros meses. Esse vai ser o ano da Camila! Está na cara.
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O primeiro pôr do sol do ano, na praia de Iracema, em Fortaleza |
Este não é um texto sobre o Ceará. É uma declaração de amor.<3 p="">
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