Gordofobia: o preconceito socialmente permitido


Because you know I'm all about that bass, no treble

Depois de muito tempo desempregado, Felipe finalmente conseguiu um trabalho como recepcionista de uma famosa rede de academias. Ele aprendeu tudo rapidamente e começou a desempenhar sua função com maestria, deixando toda a diretoria satisfeita com os resultados.
Só havia um problema. Felipe tinha predisposição genética a engordar. Ele lutou a vida toda contra a balança, mas havia aprendido a se aceitar como era, há alguns anos. Ele entendeu que não poderia deixar o seu valor ser medido com uma fita métrica ou com o visor de uma balança.
Apesar do fator não ter sido impeditivo para sua contratação, começou a ser um incômodo para os professores da academia e também para a gerência. "Como nosso cartão de visitas pode ser gordo desse jeito?", alegavam. Os profissionais argumentavam que os alunos se desmotivariam ao ver Felipe trabalhando.
Com menos de três meses de casa, o rapaz foi demitido por “não se enquadrar no perfil". Felipe ficou desolado e começou a procurar emprego novamente, ciente de que enfrentaria os mesmos preconceitos em outros lugares e precisaria torcer para que não concorresse com nenhum magro.
A história de Felipe é baseada em diversos relatos reais. É uma coletânea de situações registradas em reportagens e blogs sobre a intolerância com pessoas acima do peso, seja no ambiente de trabalho ou na vida social.

Qual gordo já não ouviu uma barbárie dessas?
Minoria?

Atualmente há um movimento muito forte de conscientização para o respeito a muitas camadas da população, que não podem ser consideradas minorias, em muitos casos. Aos poucos, as novas gerações vão entendendo que não se pode discriminar mulheres, homossexuais, pretos, amarelos, transexuais, travestis e outras pessoas que sempre estiveram à margem, na concepção limitada da sociedade. No entanto, muitos Felipes. Dianas e Paulos e mais de 56% da população adulta, que está acima do peso, segundo o Ministério da Saúde, ainda sofrem o preconceito aceito socialmente. Todos são autorizados a menosprezar, não contratar, dar conselhos não pedidos ou ainda fazer julgamentos descabidos sobre gordos.
Seria irresponsabilidade ignorar os males que a obesidade pode trazer para a saúde, mas pouca gente é gorda porque quer. E a gordofobia não torna mais fácil emagrecer. Não sejamos inocentes, ninguém se preocupa tanto com a saúde alheia, ou se a pessoa tem um rosto tão bonito, que para ser vista, precise emagrecer. É preconceito mesmo.

Evolução

Já existe inserção de gordos na mídia, mesmo que ínfima. Algumas análises já pegam no pé de séries norte-americanas, como a Sense8, da Netflix, por exemplo, que prega representatividade, mas não tem ninguém acima do peso.
Modelos plus size também têm aparecido com mais força nos últimos anos, principalmente as mulheres. No entanto, isso têm inspirado o varejo a designar áreas de suas lojas para os chamados "tamanhos especiais", que em nada ajuda na tão sonhada igualdade.
Recentemente, foi noticiado que o modelo Zach Miko, da agência IMG, foi o primeiro homem plus size a protagonizar uma campanha para a rede varejista americana Target. E fez muito sucesso.
Eu me enxergo em você, Zach Miko. Adorei essa blusa!

Miko diz em entrevistas que quer que sua imagem ajude a descontruir o modelo de padrão de beleza ideal e que outros homens possam se enxergar nele.
Só viveremos realmente em um mundo inclusivo quando as pessoas não forem discriminadas por sua forma física também.
Vamos cuidar de nossa saúde porque queremos e precisamos, não para ficarmos bem na foto de outras pessoas que não querem nos encaixar em seu Instagram slim e fitness. Viva os gordos!

Quem disse que Emma Haslam não pode arrasar no pole dance no Britain's Got Talent?

Bônus: No Brasil, a cantora Anitta fez uma apresentação no Criança Esperança deste ano com um mashup das músicas Perigosa e Show das Poderosas e o balé de dançarinas plus size. Confira abaixo e depois me conta o que achou:



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