Eu assediei, você assediou e eles assediaram

Eu tenho culpa. E você também


Em decorrência dos últimos acontecimentos, as páginas da internet foram tomadas por relatos de assédios sofridos por mulheres, em várias etapas da vida. Todos tristes e revoltantes. Sempre existiram, mas eram tratados como frescuras das mulheres ou normalidades da vida. Agora, estão escancarados, para quem quiser ler, que não, não é normal.
Todos nós, em algum momento, já fomos agressores. A mulher sempre foi vista como o sexo frágil que deveria ser dominado e subordinado ao macho alfa, mesmo que à força, para depois ser protegido. Até quem, mais tarde, se descobriria gay, precisou provar para a sociedade e para si mesmo que era "macho", e contribuiu para a proliferação da famigerada cultura do estupro, marcando muitas vidas para sempre. Porque estupro não é só a consumação do ato, migos.
Este texto da Rita Lisauskas, no Estadão, fala sobre a dificuldade de criar meninos em uma sociedade machista e me fez refletir muito sobre o tema. Fomos criados para sermos machistas e agressores.
Neste texto, narro em três atos como a inocência infantil ou a descoberta adolescente são carregadas de machismo. Migas, aqui vos escreve um réu confesso e arrependido.
 
Crianças devem ser crianças, não machos

Primeiro ato – Beijo roubado na infância
Splish splash fez o beijo que eu dei nela, dentro do ônibus. Todo mundo ignorou o assédio, pois achavam que eu estava amando.
Depois, na minha casa, todo mundo soube que o beijo que eu dei nela fez um estrago para valer.
Splish splash fez o tapa que eu levei dela, dentro do ônibus. Todo mundo olhou a condenando, só porque eu estava apanhando. Lá na casa dela todo mundo achou que o tapa que eu levei fez barulho e fez doer.
Meu pai me parabenizou. Ela nunca mais olhou na minha cara.

Segundo ato – Beijo arrancado na pré-adolescência
Por favor, entenda, eu era pressionado a ser pegador. “Quantas namoradas na escola, Paulinho?”, eles perguntavam. Eu nunca tinha beijado, precisa provar para mim mesmo, e você disse que eu era bonito. Em uma distração sua, eu te agarrei, você virou o rosto, eu não respeitei.
Eu te forcei, até que me beijasse.



Terceiro ato – Assédios na adolescência
Ela andava com uma amiga colorida na escola. E eu andava com os Zés. Elas eram amigas à beça, e nós todos, manés.
Para completar, andavam de shortinho, e os meninos se sentiam "provocados". Mexiam com elas. Piadas baixas e provocações baratas.
Quantas vezes eu os segui, para não desconfiarem?
Quantas vezes fui indelicado, para não me chamarem de viado?



Pois é, caros amigos. Não lutamos contra a cultura do estupro mudando o avatar do Facebook. Lutamos repensando nossas atitudes ou o que ensinamos e cobramos dos nossos filhos. 

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