De repente 30? Uma ova!


No alto dos meus sete anos de idade, no já longínquo 1993, eu já tinha uma visão míope e meio estrábica de futuro. Para mim, os 25 seriam a era do sucesso. Eu já estaria casado, com filhos, trabalhando como cantor, ator e apresentador de programa infantil e morando em uma mansão com 174 quartos. No entanto, esses aposentos foram diminuindo com o passar dos anos e as várias vidas que eu vivi de lá para cá. Eu perceberia que "sucesso" é um termo bem relativo.
Cheguei aos 30 na última semana e posso afirmar: “de repente” é uma ova, só no filme mesmo. Não sei se quem eu era quando criança se orgulharia de quem eu me tornei e das escolhas que eu fiz. Às vezes eu gostaria de colocar os dois Paulos frente à frente para tirar essas conclusões. No entanto, de uma coisa eu tenho certeza: teria muito a ensinar àquele moleque mimado e ranhento.


           
Eu teria que me segurar, mas evitaria dar muitos spoilers para ele. Muita coisa só tem graça por nos pegar desprevenidos mesmo.


"Eu diria para ele parar com a ideia de querer se tornar adulto logo, de querer responder pelos próprios atos logo e de sair de casa o quanto antes"

A princípio, eu diria para não se apegar tanto às coisas materiais, e que esse negócio de apresentar programa infantil seria uma onda passageira. Hoje em dia ele perderia espaço para qualquer Peppa Pig da vida e, com muita sorte, estaria na Record entrevistando gente de A Fazenda. Alertaria que a Sandy um dia cresceria, se casaria e deixaria de ser o seu crush. Inclusive, daria um toque para ele começar a olhar mais para o Junior, talvez. Isso adiantaria tanto as coisas.
Conversa tosca de Skype com o Eu do passado
Eu diria para o Paulinho dar mais valor as pessoas ao redor dele, por exemplo, a sua mãe. O aconselharia a parar de mentir, responder e fazer birra. Em poucos anos ele sentiria falta de todas aquelas broncas, puxões de orelha e também dos abraços que ele tanto evitava, principalmente em público. Aproveitaria a ocasião e o aconselharia a dar mais atenção para o seu pai, mesmo que ele fosse mais ausente, por causa do trabalho. Nenhum dos dois estaria aqui para vê-lo cruzar a linha de chegada dos 30.
Um conselho adicional que eu daria é para ele parar de assistir as novelas mexicanas do SBT, como Carrossel, e ir brincar com os amigos, afinal cada trama seria reprisada diversas vezes e no futuro uma tecnologia permitiria assistir aquilo a qualquer horário, em qualquer lugar. Duvido que ele acreditaria em mim, mas economizaria um bom tempo da vida se ficasse longe da televisão e brincasse mais com os amigos.
Eu diria para ele parar com a ideia de querer se tornar adulto logo, de querer responder pelos próprios atos logo e de sair de casa o quanto antes. Toda a dependência que ele tinha naquela época faria muita falta quando o relógio dele despertasse às 5h30 em uma segunda-feira gelada, pós-feriado.

"Diria que a Sandy um dia cresceria, se casaria e deixaria de ser o seu crush. Inclusive, daria um toque para ele começar a olhar mais para o Junior, talvez. Isso adiantaria tanto as coisas"

No entanto, algumas coisas eu diria para ele continuar fazendo: coma tudo que quiser, sinta todos os sabores possíveis, não se sinta um ET por não gostar de chocolate (você vai aprender a lidar com isso, acredite), continue sorrindo para todos e, se possível, sorria ainda mais. Mas, não precisa ser tão besta – aprenda a dizer não, quando for necessário. Isso me dá um trabalho danado até hoje, menino!
Não perca a educação que recebeu dos seus pais por nada, nem ninguém, e não tente entender ou esconder quem você é. Isso virá com o tempo. Sobretudo, sinta as dores que tiver que sentir, mas não passe a vida se melindrando por elas: o mundo não é muito tolerante com vítimas e faz questão de te ensinar isso todos os dias. Aliás, continuo aprendendo a lidar com isso. Os 30 são só o começo.




Comentários