![]() |
Finalmente no Parlamento |
Apesar de morarem em uma cidade
bem servida de ônibus, os londrinos não estão preparados para o...”caos”.
Enquanto nós, paulistanos, somos peritos, enfrentando dois ou três problemas
por semana no metrô ou no trem.
A paralisação de metrôs nos obrigou a
andar cerca de quatro quilômetros entre Old Street, o bairro em que estávamos
hospedados, até Westminster. Tínhamos hora marcada para visitar o Parlamento e
em uma cidade famosa pela pontualidade, chegamos atrasados. Não tinha como me
sentir mais paulistano em Londres do que usar a justificativa: “foi por causa
do metrô”.
***
Depois de um longo passeio de
barco pelo rio Tâmisa, chegamos a Greenwich. O bairro provinciano abriga
casarões e antigas residências reais, além de universidades e um observatório,
que não vimos pelo horário que chegamos ao bairro.
Caminhando pelas ruas estreitas,
seguindo rigorosamente as orientações do guia de viagens, nos deparamos com uma
aglomeração que em nada parecia com os outros cantos da vila. Aproximamo-nos
cautelosamente. Seria seguro?
“Xdjenfoxfmdhjh”. “Sorry?”.
“JSAfnvimssamdm”. “Sorry?”. O “diálogo” se repetiu mais umas três vezes até que
o londrino festeiro deu de ombros, desistindo de nós. A cena aconteceu em uma
festa LGBT de Rua em Greenwich, regada a show de drag queens e bebida meia boca
vendida em Libra. O nativo tentou emendar um papo conosco, mas deve ter vindo
recheado das gírias gays locais, porque não entendemos uma palavra sequer.
Fomos embora sem nenhum amigo gay para adicionar no Facebook.
Aviso:
Esse não é um texto de turismo. Tampouco pretendo dar dicas de viagem. Aqui
registro minhas impressões pessoais com Paris e Londres. Se quiser qualquer
informação adicional sobre locais e preços, me pergunte J
Cena de
filme
No último final de semana,
assisti ao filme Moulin Rouge (2001) pela 100ª vez. No entanto, apesar de saber
o roteiro de cor, dessa vez foi diferente. A abertura da história apresenta o
sinistro bairro de Montmartre, em Paris, no final do século XVIII e a
identificação com o que vi ao vivo há mais de um mês foi imediata. No alto da estante
eu vejo uma miniatura de plástico da mundialmente famosa casa de can can, com a
inscrição I was in Paris. Sim, eu
estive em Paris e isso ainda é meio louco de se imaginar.
Na nossa primeira noite na
capital francesa fomos à apresentação no Moulin Rouge. Como era verão, o sol só
se punha às 22h. Jantamos no primeiro bistrô da cidade, La Mere Catherine,
perto da basílica de Sacre Coer e corremos para o espetáculo sob um sol de mais
de 30 graus.
A casa fica na rua do hotel
onde nos hospedamos. Ao avistar o grande moinho centenário, já fui remetido à
história de Christian e Satine, no entanto, nenhum dos dois foi lembrado na
apresentação. Nem mesmo um “Voulez-vous coucher avec moi?” foi entoado.
A apresentação é grandiosa, uma
das maiores – senão a maior – que já assisti. Números circenses, danças
coreografadas, luzes, cobras – sim, cobras – e muita música deram vida ao
espetáculo Férias. Saímos de lá embasbacados e aproveitamos para conhecer o
café Le Deux Moulins, cenário do filme O Fabuloso Destino de Amélie Poulain,
algumas ruas acima, afinal, quem conseguiria dormir depois disso?
Magia
“Ela só atende no pavilhão”,
disse o ajudante da princesa Tiana, de A Princesa e o Sapo, acabando com minhas
esperanças de ter uma foto com a única princesa negra da Disney. A cena
aconteceu na Disneylândia Paris, que visitamos antes de conhecer a cidade como
se deve. Quem me conhece o mínimo, sabe o quanto isso foi especial para mim. Eu
já visitei alguns parques de Orlando, na Flórida (EUA), mas o de Paris tem sua
magia única. Afinal, diversos contos de princesas se passam na Europa. Sim, A
Bela e a Fera, Cinderela e A Bela Adormecida, estou falando de vocês.
![]() |
Castelo da Bela Adormecida, na Disneyland Paris |
O tal pavilhão era uma espécie
de chá com as princesas, fechado para as personagens e meninas. Eu não teria
tanta cara de pau assim de participar de um evento restrito desses. Não sem um
convite.
Apesar de serem menores do que
os de Orlando, os dois parques da Disney Paris têm atividades para o dia
inteiro. Ou até mais de um dia, dependendo da lotação e disposição. Conseguimos
visitar 15 atrações nos dois parques. No fim do dia, esperamos pela queima
mágica de fogos no castelo da Bela Adormecida. Um Stitch de pelúcia está na
minha cama para me lembrar todos os dias dessa data especial.
Ela
À noite, ela parece ter sido desenhada no céu. É uma experiência muito estranha olhar para a torre mais famosa do mundo de perto, com toda sua imponência. Construída no início do século passado em caráter provisório para uma exposição, a Torre Eiffel se tornou permanente e o principal ponto turístico da cidade luz. Um dos mais importantes de todo o mundo.
O guia do passeio de barco pelo
rio Sena tentava nos dar alguma explicação sobre qualquer coisa a respeito da
história da cidade, mas os olhos estavam hipnotizados nela.
Sua grandeza é assustadoramente
impressionante e a vista lá do alto – do segundo andar, pois o topo estava
fechado – é linda. No entanto, encantamentos à parte, a estrutura de subida e
descida dos visitantes lembra o pior dos serviços oferecidos aqui no Brasil,
minando a experiência em dois tempos.
Museus e
igrejas
Paris e Londres são oásis para
os admiradores de museus. Parece meio óbvio, dado que estamos falando de
cidades com mais de dois mil anos de existência, mas eu precisava reafirmar
isso. Quando nosso Brasil foi “descoberto” já se faziam quadros, vitrais e
tapeçarias lindas na Europa. Chegamos a visitar três museus em um único dia.
Fora igrejas e monumentos centenários.
![]() |
Catedral Notre Dame de Paris |
Ao contrário do senso comum que
apontaria o Museu do Louvre como o melhor e inesquecível, por ser o maior (14
quilômetros de extensão) e o que abriga a famosa Gioconda (Monalisa para os
íntimos), de Leonardo da Vinci, ficamos vidrados no discreto Museu de Cluny, da
Idade Média. Localizado perto da universidade de Sorbonne, o espaço abriga
peças que remontam a uma época que nós, brasileiros, só temos acesso por filmes
e livros de história. Se eu puder te dar uma dica sobre Paris é: sempre olhe para o teto. Lindas obras sempre estão expostas por lá.
Visitamos diversas igrejas,
como a catedral de St. Paul’s, em Londres, ou a basílica de Sacre Coer, em
Paris, mas o templo que mais me emocionou foi a catedral de Notre Dame. A mesma
da lenda do Corcunda e da cigana Esmeralda.
Com sua obra iniciada em 1100,
a gigantesca igreja já foi cenário de diversas épocas, contextos históricos e
variadas súplicas. Atualmente, assim como os outros templos, transformou-se em
um misto de igreja com museu e loja de souvenires, o que não é visto nem na
basílica de Aparecida, aqui em São Paulo. As torres são fenomenais. A vista é
uma das mais lindas de toda a cidade.
Ao sentar nos bancos para
acompanhar a missa que acontecia, uma energia muito forte me envolveu. Não sei
explicar, mas senti a necessidade de dobrar os joelhos e orar. E essa energia
canalizada foi deixando meu corpo em forma de lágrimas. Aquele foi um dos
momentos inexplicáveis de Paris.
Cultura pra
esse povo
![]() |
Fachada do Shakespeare Globe |
Uma das experiências mais ricas
da viagem foi conhecer o Parlamento inglês, que existe há 700 anos e por onde
já passaram figuras importantes, como Margaret Thatcher. Assim como o Mosteiro
de Westminster, cenário das coroações de reis e rainhas há mais de mil anos, e
onde aconteceu mais recentemente o casamento do Príncipe William e Kate
Middleton.
Também em Londres assistimos à
montagem de Ricardo II nada menos do que no Shakespeare Globe. O teatro foi
erguido às margens do Tâmisa exatamente onde o maior dramaturgo de todos os
tempos escrevia suas peças. O espetáculo de três horas de duração foi encenado
em um gigante teatro de arena, no inglês mais difícil que eu já ouvi na minha
vida. Até mais difícil do que do pessoal de Greenwich.
Gastronomia
Almoços
e jantares em Paris e Londres podem ser verdadeiros programas culturais. Seja
pela arquitetura e história de bistrôs e brasseries da capital francesa ou da
cultura Fish and chips da terra da Rainha, tudo ajuda a remontar a formação
cultural das cidades. Além do bistrô La Mere Catherine, já citado, visitamos a
Brasserie Lipp, que mantém o mesmo ambiente e cardápio desde 1880. Outra
experiência inesquecível foi o monumental Le Train Bleu, dentro de uma estação
de trem.
O
restaurante mais antigo de Londres, Rules, foi nosso destino de jantar logo
após a visita à National Gallery. Um jantar pago em libra esterlina só podia
ser ótimo e ainda estou procurando uma réplica daquela Golden Syrup por aqui.
Baby, me
leva
Paris é uma cidade linda,
propícia para andar a pé. Não precisamos utilizar outro meio de transporte que
não fossem metrôs e trens. No entanto, se eu fosse escolher uma para morar
seria Londres. O clima frio, até mesmo no verão, parece ter sido feito sob
medida para mim. E o melhor de tudo: basta pegar um trem e ir para Paris.
O regime monárquico da
Inglaterra está estampado em todos os lugares de Londres, o que dá uma aura
real, de contos de fada, aos principais bairros da capital. No entanto, o
passado de guerras também é bem presente em símbolos como a Torre de Londres e
o navio HMS Belfast, ancorado no Tâmisa, próximo a Tower Brigde.
Muitos passeios inesquecíveis
foram injustiçados nesse texto e essa é uma das razões de ter demorado tanto
para sair. No turbilhão de dúvidas, quase não saiu. Arco do Triunfo, Centro
Pompidou, Madame Tussauds, Museu Carnavalet, Palácio de Versalhes, Museu
Picasso, London Eye, Museu de Londres, British Museum, London Bridge, London
Dungeon, Piccadilly Circus, Pantheon, Pollock’s Museum, Buckingham Palace e
jardins secretos de Paris: vocês estarão sempre em meu coração.
Bônus - Adendo importante
Escadas. Escadas. Escadas. Se
tirar todo o romantismo e poesia de uma viagem para a Europa e olhar sob um
prisma frio, isso é tudo que você vai encontrar nos pontos turísticos. As obras
são centenárias e, em alguns casos, milenares, e mantidas no formato original,
principalmente Paris. Mas o encantamento é tão grande, que o bambear de pernas
não cede em nenhum momento as belezas e o choque de se estar em duas das
principais capitais do mundo.
Já faz quase seis meses que eu
voltei da Europa, mas havia prometido uma segunda parte daquele texto e por
mais inspirações que tivesse, não conseguiria colocar no papel enquanto este
não saísse.
Em uma segunda-feira de agosto,
depois de um fim de semana mágico com show no Moulin Rouge, visita à Disney
Paris e passeios por museus e restaurantes, foi a vez de colocar a cara no sol
de mais de 30 graus, subir e descer ruelas e escadas. A catedral de Notre Dame
é como no desenho da Disney, sentia-me como o Quasímodo subindo por aquela
escada infinita até chegar ao topo e, quando lá, gritamos “santuário”, como
dois bons turistas, ao som dos sinos.
Comentários
Postar um comentário