Sede incomoda tanto quanto a fome

Você já passou sede? Muita sede? Aquela sede que te seca a garganta e, aos poucos, vai secando tudo, te deixando com dificuldades até pra respirar? E quanto tempo levou para saciá-la? Muito? Uma hora, talvez, ou um pouco mais? Dias? Duvido...

Além da fome, que recai sobre muitas pessoas ainda no Brasil, inclusive aqui em São Paulo, a cidade mais rica do país, um mal que as rodeia é a sede. Eu já tinha ouvido isso nos tempos de faculdade, quando fui acompanhar o trabalho da ONG Anjos da Noite que distribui refeições para as pessoas em condições de rua (não são moradores de rua, e sim, em condições de rua) no centro da cidade. Eles agradeciam pelo gesto, mas a fome não era o que mais incomodava. Muitos queriam água! Por incrível que pareça...

Enquanto você e eu temos esse bem disponível a qualquer momento, e podemos pagar R$ 1 em uma garrafinha de água mineral em barzinhos por aí, muitas pessoas já experimentam o que 18% da população mundial (mais de um bilhão de pessoas) passam sem essa abundância, segundo relatório da ONU. Se não tem água para beber, que dirá para se limpar e tomar banho. Isso é o que alegam os comerciantes que negam a bebida: os outros clientes não gostam de ver pessoas sujas e cheirando mal na porta do estabelecimento.

Certa vez, li em um texto publicado pela revista Atualidades Vestibular, que a natureza tem se vingado ironicamente da raça humana. Afogando com água salgada e secando a água doce. Como um náufrago, que se vê em uma ilha deserta, rodeado de água, mas morto de sede – analogia muito bem empregada por eles.
Não estou pregando o bom moralismo, ou me eximindo de minha culpa. Também desvio inconscientemente, deixo a pressa negar ajuda por vezes, e a generalização do “todo mundo é drogado” também faz parte de meus pré-conceitos quando estou desatento.

Comecei a pensar nesse assunto quando recebi uma cópia de e-mail do Reginaldo Prado, do Programa Participação Comunitária da Sabesp pedindo ao prefeito Gilberto Kassab que oriente os comerciantes sobre a obrigatoriedade de fornecer água a quem pedir. A reclamação partiu de uma integrante da ONG Fraternidade Espírita Arco Íris, que distribui cerca de 380 a 500 mamitex por semana, e tem notado essa carência, sem condições de suprir. Se a própria Sabesp, que seria a mais interessada em faturar em cima da água abriu os olhos, por que eu não posso? Por que nós não podemos?

Para conhecimento, Prado propôs algumas alternativas ao prefeito:

1-) Campanha lembrando os comerciantes da obrigatoriedade de fornecer água a quem pedir;
2-) Orientar a GCM a atender denúncias dos munícipes a respeito.
3-) Preparar as administrações da prefeitura, pia e torneira à disposição dos Sem teto para se servirem de água.
4-) Que os voluntariados preparem garrafas envazadas com água e destinem à essas ONGs.

Comentários

  1. Nem pensamos no fato da água ser o elemento essencial à vida, passa desbercebido. Não deveria ser surpreendente notar que a água salgada toma conta da superfície com o passar do tempo, enquanto uma quantidade (pífia) de água doce e potável se esgota.
    Encontro pelo menos dois pontos importantes nesse post:
    1) A situação descrita logo aqui acima;
    2) Uma provável vontade de fazer algo pelos outros, em contraste com as sensações de medo e desconfiança.

    Parece que sempre estamos frente a paradoxos.

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