Mas você não é jornalista?

No início incomodava, achava que era só comigo, ficava triste, mas passou. Hoje, já sei que todo mundo que optou pelo mesmo caminho universitário que eu, enfrenta as mesmas perguntas e expectativas dos familiares. 
Já sabemos até o que esperar nas festas de fim de ano, vamos mais preparados. Desde que entramos na faculdade de jornalismo, as perguntas "quebra-gelo" mudaram. Saíram o "e as namoradinhas?", "e a escola?", "tá ajudando em casa?" e entraram os "por que você não trabalha na Globo?", "mas você ganha só isso?", "jornalista. Uau! Você deve ser bem inteligente, né?". 
A cada ano a complexidade das perguntas aumenta, e a frustração deles também.
Sempre querem sua opinião sobre assuntos polêmicos, e também sobre alguma trivialidade momentânea. Falar "não tenho opinião formada sobre o assunto", é praticamente fora de cogitação.
Sempre que pensam em alguém para fazer um discurso, você é um dos primeiros da lista. Isso é bom, mas vem acompanhado de uma série de penduricalhos e estigmas que precisam ser esclarecidos, todos os anos. 


Aquele primo jornalista chegou!

Oi, família


24 de dezembro. O jornalista chega para a ceia de Natal. Um parente o enxerga, o cumprimenta e puxa assunto. Dependendo do grau de intimidade, a conversa pode seguir uma das cenas abaixo:

Cena 1 - Já que não está na Globo, o que você faz?
- Você é jornalista? Que legal! Como você trabalha?
- Eu trabalho no impresso. Escrevo reportagens sobre o assunto X.
- Só isso? Só escreve? Mas você não é jornalista?

 ou...

- Você é jornalista? Que legal! Como você trabalha?
- Sou assessor de imprensa.
- Mas você não é jornalista?

Cena 2 - Reconhecimento de campo
- Ah, eu vi sua matéria. Ficou legal. Parabéns!
- Que legal! Você leu?
- Na verdade não. Era muito texto, só vi as fotos e seu nome lá.

Cena 3 - Seja útil!
- Pode me ajudar aqui com essa conta?
- Ih, gente! Sou ruim de matemática.
- Mas você não é jornalista?
- Por isso mesmo, minha área é humanas.
- Mas e aqueles números todos que saem nas suas matérias?

ou...

- Você que manja de tudo, bem que podia dar uma revisada no meu TCC, hein? Só 80 páginas. Rapidinho.
- Mas eu não sei sobre esse tema.
- Você não é jornalista?

Cena 4 - Codinome Google
- Como eu faço pra tirar visto para ir à Índia?
- Na verdade, eu não tenho certeza se precisa de visto.
- Mas você não é jornalista? Descobre isso para mim.

Cena 5 - Como você não sabe disso?
- O que você acha da forma com que os pinguins se reproduzem, quando expostos a condições adversas, no Sul da Patagônia?
- Eu não sei nada sobre isso. Há relação entre pinguins e Patagônia? 

- Como não! Passou no Discovery, você não é jornalista?

Mas você não é jornalista?

Cena Bônus - Jornalista ausente
- O fulano não vem esse ano?
- Não. Está de plantão.
- Mas ele não é jornalista?

O curioso é que, apesar de serem ainda mais notadas nas festas de fim de ano, pela constância, essas perguntas aparecem em nossa rotina constantemente.
Amigos jornalistas, caso lembrem de alguma cena que não citei, me ajudem 😃

Feliz Natal e um próspero ano novo sem passaralhos e com condições minimamente decentes para nossa categoria.


E bora celebrar, né non?

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