Ontem li muitos relatos de pessoas que
acabaram de perder suas mães e estavam ainda no processo de aceitação. Me
enxerguei em muitos deles. Dói. Eu sei que dói e muito. Com o tempo, porém, a
ferida cicatrizou, a sua ausência passou a fazer parte da minha vida e aprendi
a identificar a sua presença nos momentos mais sutis.
Logo no ano em que te perdi, me formei na
oitava série. Eu sei que você estava lá e recebeu aquela rosa direcionada às
mães, pela mão do meu pai. Sabe, quando fui para o Ensino Médio, entendi que
realmente precisaria pensar no futuro e já não tinha mais você por perto.
Aquelas matérias me ajudariam a responder a primeira pergunta que qualquer um
se faz quando pensa no que está por vir: prefiro português ou matemática?
Eu sentia seu olhar de reprovação
quando mentia, cabulava aulas, saía para balada escondido, cometia os pecados
adolescentes e, sobretudo, quando culpava a família por tudo de ruim que
acontecia #dramaqueen. Você sempre me dizia que me apoiaria seja qual fosse meu
caminho. Não sabia exatamente ao que você se referia, mas me apeguei a essa
frase para ter certeza de que não te decepcionaria por ser quem eu sou.
Você estava presente quando escolhi o
jornalismo como way of life. Talvez tenha até tentado me alertar, mas não dei
ouvidos e cá estou.
Eu senti você vibrar quando consegui a
bolsa integral pelo ProUni, quando ninguém nem sabia o que era isso, e dava
para sentir o seu orgulho quando comecei a trabalhar com telemarketing e fazer
faculdade. Inclusive dava para sentir seu abraço caloroso, quando eu chegava
esgotado em casa.
Falando nisso, lembro claramente de ter
sentido seu braço envolvendo o meu, e o do meu pai, enquanto dançávamos aquela
valsa da formatura da faculdade. Foi tão lindo. E sua cara de felicidade quanto
me formei na pós-graduação? Senti você me acompanhando na primeira entrevista
de emprego para repórter, arrumando minha roupa pelo caminho. Foi tão especial.
Você também me consolava cada vez que eu era desclassificado de processos
seletivos. Isso me dava tanta força para continuar.
Sempre que volto de viagem, te vejo me
esperando no saguão do aeroporto, ansiosa para me dar um caloroso abraço, e
saber de cada detalhe. Em pensamento te conto tudo. Ou quase.
Você com certeza sabe, mas nesses mais de
16 anos eu desafiei a gravidade algumas vezes, saltando de paraquedas,
paraglider e outras loucuras que te deixariam aflita, se ainda estivesse
fisicamente aqui. Me joguei no mato em trilhas, ralys e aventuras que nem teria
como te descrever.
Vivi amores e perdas, chorei mais do que
deveria e aprendi que o mundo é feito de protagonismo, não de vitimismo. Quanto
mais sorrisos sinceros distribuo, mais portas se abrem.
Até os dias atuais, cada vez que o relógio
desperta, às cinco e meia da manhã, eu sinto uma brisa que me chama
delicadamente, enquanto a cama me agarra para ficar por lá até mais tarde. Eu
quase nunca perco a hora, porque você não deixa, e é insistente. Sempre foi
rígida com horário.
Reforço que, com o passar dos anos, a
gente se acostuma a tudo, até mesmo à ausência. A saudade fica, mas a ferida
cicatriza. A falta passa a ser uma constante e contra ela não há nada que
possamos fazer. Conforme amadureci, aprendi que o amor pode existir nas mais
variadas formas, emanando de diversas fontes. Basta estar aberto a recebê-lo.
Nos últimos anos tenho me blindado de
possíveis lembranças tristes. Temos reunido os familiares em datas como o dia
das mães. Neste ano, por exemplo, passamos com a família do meu primo. E foi
muito bom, fomos muito bem recebidos e o amor entre eles transbordava.
Tenho certeza que você, e também meu pai,
acompanham cada passo meu, e sei que me guiam para que nunca me falte amor.
Como me disse um grande amigo, o amor de mãe não é substituível, mas é inegável
o legado deixado por vocês em mim. Você e meu pai me capacitaram para atrair o
amor. Como se os muitos amores que chegam até mim fosse o de vocês,
fragmentado, mas inteiro.
Como essas palavras me foram dadas pelo
meu amigo, abuso do meu direito de encerrar o texto com elas. “Esse amor consola
a dor da ausência e fortalece a esperança do reencontro”. Ainda nos
reencontraremos. Feliz dia das mães.
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