O legado mais triste que as
chamadas “jornadas de junho” deixaram para o Brasil nem foram as manifestações
em si, mas o efeito manada mais bem sucedido das últimas décadas. Não me senti
representado por aquele movimento. Pelo menos não via minhas convicções
estampadas em cartazes que menosprezavam ou faziam piadas misóginas à
presidenta Dilma, ou pediam a volta da Ditadura Militar (!!!) como forma de
arrumar “tudo que está aí”.
Para explicar meu ponto de vista,
acho importante lembrar que a aprovação do governo Dilma antes de junho batia a
casa dos 79%, mais do que Lula e FHC. Faz bem recordar que as manifestações
começaram por iniciativa do Movimento Passe Livre (MPL) em repúdio ao aumento
da tarifa de ônibus, que congelada há anos, passava de R$ 3,00 para R$ 3,20.
Com a repressão desproporcional da Polícia Militar para conter manifestantes,
confiscando pertences absurdos, como vinagres (!!!), o dia 13 de junho foi
decisivo para que iniciasse a mobilização nacional contra os abusos, promovidos
pelo Governo do Estado de São Paulo a.k.a. Geraldo Alckmin.
O que deve ser aplaudido, no entanto, é a capacidade da oposição de virar o holofote que estava iluminando o Palácio dos Bandeirantes, no Morumbi, para o Palácio do Planalto, em Brasília em tempo recorde
O que deve ser aplaudido, no
entanto, é a capacidade da oposição de virar o holofote que estava iluminando o
Palácio dos Bandeirantes, no Morumbi, para o Palácio do Planalto, em Brasília
em tempo recorde. De repente, tudo virou culpa da Dilma (do PT já era, mas
agora era da Dilma também) e um grito abafado de “não vai ter Copa” começou a
ganhar corpo entre os manifestantes. Lideranças duvidosas do movimento foram
até entrevistadas por famosas revistas que contém emblemáticas páginas
amarelas. Talvez o maior erro de Dilma, para não ver sua aprovação cair tanto,
foi ter demorado a se manifestar.
O final dessa história está aí,
para todo mundo ver. Teve Copa. Muita Copa, por sinal. As eleições ainda estão
em curso e não faltam candidatos querendo se apropriar das “jornadas de junho”.
Proponho até um desafio: conte quantas vezes o candidato Aécio Neves (PSDB)
fala a palavra “mudança” em seu programa televisivo. E quais as novidades
propostas pelo candidato? Redução da maioridade penal? Fim da reeleição (criada
pelo seu próprio partido, importante lembrar), mas só em 2022? Essa é a mudança
que pediram? Bitch, please.
Se Aécio ganhar, junho ganha. Aquele junho desordenado e que gritava por várias coisas e por nada ao mesmo tempo
Se Aécio ganhar, junho ganha.
Aquele junho desordenado e que gritava por várias coisas e por nada ao mesmo
tempo. Aquele junho que era tão politizado que a única coisa que sabia gritar
era que odiava o PT. Aquele junho de direita que não enxergava os mais frágeis
e que gosta de dizer que “sustenta o Nordeste”. Esse junho ganha!
Eu tenho o meu junho, lutei e
luto por ele, infelizmente, menos do que eu gostaria, admito. Eu sei minhas
causas e são elas que defendo quando digito os números na urna. Não deixo que o
junho de ninguém influencie o meu junho. E que bom seria se cada um defendesse o seu,
não viveríamos um outubro tão tenebroso.
Comentários
Postar um comentário